Kleber Mendonça Filho, que dirigiu o filme O Som ao Redor,
respondeu ao “desafio” proposto pelo executivo da Globo Filmes, Cadu
Rodrigues, que havia convidado o cineasta a produzir um filme e fazer
200 mil espectadores com todo o apoio da distribuidora, conforme
noticiado pelo jornal Agora São Paulo.
O executivo da Globo Filmes disse ainda
que, se o diretor não alcançasse a meta, o público entenderia que “como
diretor, ele é talvez um bom crítico”. O comentário de Cadu foi feito
após Kleber dizer que, se seu vizinho “
lançar o vídeo do churrasco dele no esquema da Globo Filmes, ele fará 200 mil espectadores no primeiro final de semana”.
Em resposta à provocação de Cadu, Kleber
disse agradecer o desafio, mas afirma que o valor de um filme não deve
ser medido apenas em números. O diretor aproveitou para criticar a
empresa do executivo e propôs outro desafio.
“O sistema Globo Filmes faz mal à ideia
de cultura no Brasil, atrofia o conceito de diversidade no cinema
brasileiro e adestra um público cada vez mais dopado para reagir a um
cinema institucional e morto”, analisou Kleber, em
comunicado publicado na página oficial do filme no Facebook.
“Devolvo eu um outro desafio: Que a Globo Filmes, com todo o seu alcance e poder de comunicação, com a
competência dos que a fazem, invista em pelo menos três projetos por ano que tenham a pretensão de ir além”, continuou o cineasta.
Por fim, Kleber afirmou que os embates deste tipo são importantes e que a maior publicidade de O Som Ao Redor é o próprio filme. Desde quando estreou, o longa levou 72 mil pessoas aos cinemas.
Veja a resposta do diretor Kleber Mendonça Filho na íntegra:
“Estava em trânsito o dia inteiro, cheguei em Istambul onde O Som ao Redor será
exibido nos próximos dias. O Facebook e a imprensa fervilham com nosso
embate. Preciso lhe agradecer pelo desafio, mas sua proposta associa a
não obtenção de uma meta comercial (200 mil espectadores) como prova
irrefutável de que eu não seria um cineasta. Isso não me parece correto,
pois o valor de um filme, ou de um artista, não deveria residir única e
exclusivamente nos número$.
Sobre ser crítico ou cineasta, atuei
como ambos e meu discurso permanece o mesmo, e sempre foi colocado
publicamente, e não apenas em mesas de bar: o sistema Globo Filmes faz
mal à idéia de cultura no Brasil, atrofia o conceito de diversidade no
cinema brasileiro e adestra um público cada vez mais dopado para reagir a
um cinema institucional e morto. Devolvo eu um outro desafio: Que a
Globo Filmes, com todo o seu alcance e poder de comunicação, com a
competência dos que a fazem, invista em pelo menos três projetos por ano
que tenham a pretensão de ir além, projetos que não sumam do radar da
cultura depois de três ou quatro meses cumprindo a meta de atrair alguns
milhões de espectadores que não sabem nem exatamente o porquê de terem
ido ver aquilo.

Esse desafio visa a descoberta de
novos nomes que estão disponíveis, nomes jovens e não tão jovens que
fariam belos filmes brasileiros que pudessem ser bem visto$, se o
interesse de descoberta existisse de membro tão forte da cadeia
midiática nesse país, e cujos produtos comerciais também trabalham com
incentivos públicos que realizadores autorais utilizam. Não precisa me
incluir nessas novas descobertas, gosto do meu estilo de fazer cinema.
Ainda estou no meio de um grande desafio com O Som ao Redor, 9 cópias
35mm, mais algumas salas em digital, chegando aos 80 mil espectadores em
8 semanas, e com distribuição comercial em sete outros países. A maior
publicidade de O Som ao Redor é o próprio filme. Para finalizar, esses
embates são importantes, fazemos cinemas diferentes, em geografias
diferentes. Obrigado, tudo de bom. Kleber”.
Fonte: www.terra.com.br