24/02/2015

Clube de Cinema melancolicamente apresenta Cría Cuervos



   
   O antigo provérbio espanhol “Crie corvos e eles te arrancarão os olhos!” é a origem do nome deste longa-metragem do diretor espanhol Carlos Saura. Assim como diversos de seus contemporâneos, o cineasta foi um dos combatentes mais ferrenhos ao fascismo de Francisco Franco e sua ditadura que perdurou por cerca de quarenta anos. Lançado em 1976, Cría Cuervos reúne esse período e, através dos olhos de uma criança órfã, descreve-as de forma sutil, porém amarga.
   Ana é uma garota de oito anos que observou sua mãe, portadora de câncer, definhar até seus últimos dias; a negligência de seu pai, um militar fascista, fez com que Ana jamais conseguisse perdoá-lo, culpando-o diretamente pela morte de sua mãe. Alguns anos mais tarde, após a morte repentina do pai, pela qual Ana não sente nenhuma comoção, ela fecha-se em seu próprio universo, incapaz de lidar com o mundo vil dos adultos. 
    O mundo interior de traumas secretos de Ana, e a forma que encontrou para superá-los, entra em conflito direto com o mundo externo, marcado pela hipocrisia dos adultos, pelas mentiras, pela doença e pelo fascismo. Contudo, Ana não permanece na infância no decorrer do filme: através de flash-forwards confessionais, introduzidos de forma similar aos relatos presentes num documentário, Ana, já adulta, relembra sua infância como um período sombrio e trágico de sua vida.