O antigo
provérbio espanhol “Crie
corvos e eles te arrancarão os olhos!” é a origem do nome deste longa-metragem
do diretor espanhol Carlos
Saura.
Assim como diversos de seus contemporâneos, o cineasta foi um dos combatentes
mais ferrenhos ao fascismo de Francisco Franco e sua ditadura que perdurou por
cerca de quarenta anos. Lançado em 1976, Cría
Cuervos reúne esse período e, através dos olhos de uma criança
órfã, descreve-as de forma sutil, porém amarga.
Ana é uma garota de
oito anos que observou sua mãe, portadora de câncer, definhar até seus últimos
dias; a negligência de seu pai, um militar fascista, fez com que Ana jamais
conseguisse perdoá-lo, culpando-o diretamente pela morte de sua mãe. Alguns
anos mais tarde, após a morte repentina do pai, pela qual Ana não sente nenhuma
comoção, ela fecha-se em seu próprio universo, incapaz de lidar com o mundo vil
dos adultos.
O
mundo interior de traumas secretos de Ana,
e a forma que encontrou para superá-los, entra em conflito direto com o mundo
externo, marcado pela hipocrisia dos adultos, pelas mentiras, pela doença e
pelo fascismo. Contudo, Ana
não permanece na infância no decorrer do filme: através de flash-forwards
confessionais, introduzidos de forma similar aos relatos presentes num
documentário, Ana,
já adulta, relembra sua infância como um período sombrio e trágico de sua vida.